Evangelho
O Evangelho: a Boa Nova da Redenção e da Restauração
Alguma vez andaste pelas ruas antigas de Braga e te perguntaste sobre o significado mais profundo da vida? Tal como as igrejas históricas da nossa cidade, que apontam para algo maior do que nós próprios, o Evangelho – ou “boas notícias” – conta a história do amor de Deus pela humanidade e o Seu plano para restaurar todas as coisas. É a mensagem central do cristianismo, proclamando a salvação que Deus providenciou através de Jesus Cristo. Na crença cristã evangélica e reformada, o evangelho é mais do que um conjunto de doutrinas; é uma história viva que fala às necessidades mais profundas da humanidade e responde às grandes questões da existência. Neste artigo, vamos explorar o evangelho através da lente da grande narrativa da Bíblia, que se desenrola em quatro fases: Criação, Queda, Redençãoe Consumação.
A criação: O começo perfeito de Deus
A Bíblia começa com a história da criação. “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Génesis 1:1). Os cristãos acreditam que Deus é o Criador de tudo o que existe e que Ele fez tudo bom. Ele formou tudo – desde as colinas ondulantes do Minho até à mais pequena flor do Bom Jesus do Monte – para refletir a Sua glória. A humanidade, no entanto, ocupa um lugar especial na criação. A Bíblia diz-nos que Deus fez as pessoas “à Sua imagem” (Génesis 1:27), o que significa que fomos criados para refletir o Seu carácter, desfrutar de uma relação pessoal com Ele e administrar a Sua criação de forma responsável.
Nesse estado original, a humanidade vivia em harmonia com Deus, uns com os outros e com o mundo ao seu redor. Não havia sofrimento, dor ou morte – apenas paz, propósito e alegria na presença de Deus. É a isto que os cristãos chamam “shalom”, uma palavra hebraica que significa paz, totalidade e plenitude.

Queda: A rebelião da humanidade contra Deus
Tragicamente, esta paz foi quebrada. A humanidade, representada pelo primeiro homem e pela primeira mulher, Adão e Eva, optou por desobedecer à ordem de Deus, procurando ser independente d’Ele e tentando definir o bem e o mal nos seus próprios termos. Este acontecimento, conhecido como a Queda, está registado em Génesis 3. Através da sua desobediência, o pecado entrou no mundo e com ele veio o sofrimento, a morte e a separação de Deus.
A Queda afectou toda a criação. Os seres humanos, agora marcados pelo pecado, experimentam relacionamentos quebrados, culpa e vergonha. A nossa capacidade de viver em harmonia uns com os outros e com a criação é perturbada, e enfrentamos as dolorosas realidades do conflito, da doença e da morte. O mundo, outrora um reflexo perfeito da glória de Deus, tornou-se um lugar de sofrimento e luta. Esta rutura afecta todas as partes da vida humana – os nossos pensamentos, desejos, acções e até o mundo natural.
Apesar disso, Deus não abandonou a Sua criação. Mesmo no meio do julgamento, prometeu que, um dia, a “semente da mulher” viria para esmagar o poder do mal (Génesis 3:15). Esta é a primeira promessa de redenção, uma promessa de que Deus um dia enviaria um Salvador para restaurar o que havia sido perdido.

Redenção: O Plano de Deus para Salvar e Restaurar
Ao longo do Antigo Testamento, Deus revela o Seu plano para redimir o Seu povo. Escolhe Abraão e os seus descendentes, o povo de Israel, através dos quais trará bênçãos a todas as nações do mundo (Génesis 12,2-3). A história de Israel é uma história complexa do amor da aliança de Deus e da rebelião humana, mas Deus permanece fiel, chamando continuamente o Seu povo a regressar a Ele.
O acontecimento central do Evangelho é a vinda de Jesus Cristo, que os cristãos acreditam ser o Salvador prometido e o cumprimento das promessas da aliança de Deus. Jesus, plenamente Deus e plenamente humano, veio ao mundo para viver uma vida de perfeita obediência, livre do pecado. Ensinou sobre o reino de Deus, curou os doentes, amou os marginalizados e demonstrou a compaixão de Deus.
Mas Ele fez algo ainda mais extraordinário. Numa cruz fora de Jerusalém, Jesus aceitou de bom grado o castigo que os nossos pecados mereciam. Como escreve o apóstolo Paulo, “Deus fez daquele que não conheceu pecado, pecado por nós, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21). Jesus foi voluntariamente para a cruz, onde sofreu e morreu como sacrifício pelos pecados do seu povo. Jesus recebeu o castigo que nós merecíamos para que pudéssemos ser perdoados e restaurados a um relacionamento correto com Deus.
Mas a história não termina com a morte de Jesus. A morte não O podia deter. Três dias depois, Jesus ressuscitou dos mortos, provando o Seu poder sobre o pecado e a morte e oferecendo-nos a esperança de uma nova vida. Esta ressurreição é fundamental para a fé cristã, pois mostra que Jesus venceu a morte e que a justiça de Deus em relação aos pecados do seu povo foi plenamente satisfeita. Através da fé n’Ele, esta satisfação pode ser aplicada a nós e podemos ter a vida eterna.

Consumação: A renovação de todas as coisas
Esta não é apenas uma história antiga – é uma realidade viva que transforma vidas hoje. Pela fé em Jesus, recebemos:
- Perdoa o nosso passado
- Uma nova identidade como filhos de Deus
- Objetivo para o nosso presente
- Esperança para o teu futuro
- O poder do Espírito Santo para viveres de forma diferente
A história do Evangelho também nos aponta para o futuro. Os cristãos acreditam que Jesus voltará um dia para completar a Sua obra de redenção e para julgar o mundo. Esta fase final, conhecida como a consumação, é quando Deus fará novas todas as coisas. O livro do Apocalipse descreve uma visão desta criação renovada, onde Deus habitará com o Seu povo, e não haverá mais dor, sofrimento ou morte. “Enxugará dos seus olhos toda lágrima, e a morte não existirá mais” (Apocalipse 21:4).
Nesta nova criação, os efeitos do pecado serão totalmente desfeitos. A Terra será restaurada à sua beleza original e a humanidade redimida (todos aqueles que se reconciliaram com Deus através da fé em Jesus Cristo) viverá em perfeita harmonia com Deus, uns com os outros e com a criação. A Bíblia chama a isto “novos céus e nova terra” (Apocalipse 21:1), um lugar de perfeita paz e alegria na presença de Deus. Esta é a derradeira esperança da fé cristã: um futuro onde tudo o que está estragado será restaurado, onde a justiça e a retidão reinarão e onde viveremos na presença de Deus para sempre.

O convite do Evangelho
O evangelho é, no fundo, um convite. Chama cada pessoa a afastar-se do pecado e da autossuficiência e a confiar em Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Esse ato de fé, muitas vezes chamado de “arrependimento e fé”, é como uma pessoa começa uma nova vida com Deus. O próprio Jesus fez esse convite quando disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28).
Para os cristãos, aceitar o Evangelho significa entrar numa relação com Deus, marcada pelo perdão, pela transformação e pela esperança. Através da fé, somos unidos a Cristo e a Sua vida, morte e ressurreição tornam-se o fundamento das nossas vidas. Somos perdoados, adoptados na família de Deus e capacitados pelo Espírito Santo para viver uma vida que reflecte o amor, a misericórdia e a justiça de Deus.
O Evangelho na vida quotidiana
O Evangelho não é apenas uma mensagem sobre o que acontece depois de morrermos; tem profundas implicações para a vida atual. Chama-nos a viver de uma forma que reflicta o amor e a santidade de Deus, a procurar a justiça, a amar o nosso próximo e a cuidar do mundo à nossa volta. Dá-nos um objetivo, um significado e uma direção, oferecendo uma visão da vida como ela deve ser – uma vida com Deus no centro.
Em resumo, o Evangelho é a história do amor e da redenção de Deus. Começa com a criação, é marcado pela queda da humanidade no pecado, desdobra-se na obra redentora de Deus através de Jesus Cristo e atinge o seu cumprimento na renovação de todas as coisas. Esta é a esperança a que os cristãos se agarram, a boa nova que somos chamados a partilhar e o fundamento de uma vida transformada pela graça de Deus.